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Publicado: 12.07.2013

Recentemente fomos ‘surpreendidos’ com a novidade de que Guimarães 2012, Capital Europeia da Cultura (CEC), deu lucro ao Estado português! O valor pago em contribuições e impostos foi superior ao dinheiro público investido no evento (27 milhões de euros) e o efeito multiplicador do dinheiro investido ronda os 85 milhões de euros no Produto Interno Bruto (PIB).

É óbvio que esta é uma conceção demasiado redutora sobre o impacto do evento. Perspetivar um evento como a CEC estritamente pela vertente da produção de valor é perigoso e pode contribuir para legitimar decisões que têm marcado o campo cultural nestes últimos anos (basta referir a despromoção do Ministério da Cultura a Secretaria de Estado em 2011).

A CEC é um evento que elege, de ano para ano, cidades dos diferentes estados membros da União Europeia, procurando “contribuir para a aproximação dos povos europeus” (nas palavras de Mélina Mercouri, ministra da cultura grega que, em 1985, propôs ao Conselho de Ministros da Cultura das Comunidades Europeias o lançamento desta iniciativa) e incentivar a apresentação, nesses espaços urbanos, de novos paradigmas culturais.

Na génese deste modelo está o vetor da descentralização cultural, a possibilidade de cidades de média dimensão financiarem obras públicas, restaurarem património e promoverem-se em termos turísticos; a possibilidade de dar visibilidade a cidades periféricas afastadas dos grandes centros de distribuição das indústrias culturais e criativas.

O governo português ao apresentar a candidatura da cidade de Guimarães a CEC não estaria com certeza centrado na vertente do lucro, mas, espera-se, na possibilidade única de proporcionar aos vimaranenses experiências irrepetíveis que os tornaram cidadãos mais conscientes e empenhados, ou nas palavras de Francisca Abreu, vereadora da cultura da Câmara Municipal de Guimarães, “cidadãos com forte ‘patriotismo de cidade’, orgulhosos da sua memória e identidade”.

A Fundação Cidade de Guimarães, responsável pelo evento, desde cedo sublinhou a importância de implicar a comunidade no evento; o lema da CEC, ‘Tu Fazes Parte’, denota o eixo da participação como o mais relevante e central do evento. E participar implica as duas partes e uma possível sujeição ao confronto, à tentativa e erro, ao imprevisto, enquanto envolver remete para o esforço de uma das partes em levar a outra, passiva, a agir em conformidade com algo, sustenta um ponto de vista soberano.

O Estado português pretenderia o envolvimento, mas o que a Fundação conseguiu foi a participação; o envolvimento pode ser traduzido em euros, a participação implica a experiência do território, o estar com, o tornarmo-nos mais ‘ricos’ ainda que os bolsos teimem em esvaziar-se!

Guimarães 2012, mais do que lucro, reforçou o território e a participação democrática e é um bom exemplo de como se transformam habitantes de uma cidade em cidadãos.