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Publicado: 09.03.2018

O seminário “O Poder do Comentário no Jornalismo” reuniu, na ESCS, profissionais que refletiram sobre questões relacionadas com a lógica do comentário na comunicação social.

O Auditório Vítor Macieira acolheu, no passado dia 7 de março, o seminário “O Poder do Comentário no Jornalismo”, uma iniciativa da ESCS, do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) e do Plano Nacional de Ética no Desporto (PNED). O evento reuniu profissionais ligados à investigação, ao ensino e ao jornalismo desportivo, que refletiram sobre temáticas como o poder dos comentadores e a forma como estes influenciam a agenda mediática.

O Prof. Doutor Jorge Veríssimo, Presidente da Escola, deu início à sessão, endereçando um agradecimento à Dr.ª Lídia Praça (IPDJ) e ao Dr. José Lima (PNED), pela longa parceria entre a Escola e estas entidades. Seguiu-se uma pequena reflexão sobre a importância que o desporto assume na sociedade e, consequentemente, na área do Jornalismo.

As lógicas do comentário em Portugal

Rita Figueiras, docente e investigadora na área de Comunicação Política, Jornalismo e Economia Política dos Media, da Universidade Católica Portuguesa, refletiu sobre a lógica do comentário enquanto “conteúdo dos media” e “campo de poder”. No que diz respeito aos media, a investigadora defendeu que é necessário preencher o espaço, do ponto de vista pragmático, competitivo (ao nível das audiências), cívico e simbólico (tendo em conta o poder e ideologias dos comentadores). Por outro lado, o comentário constitui, também,  uma “interface de poder e do poder”, na medida em que existe uma gestão de interesses no espaço público.

A professora debruçou-se, ainda, sobre a forma como o espaço do comentário se tornou numa “extensão da atuação política”, concluindo que os comentadores falam “para as elites e com as elites”, pelo que o tom pedagogo do comentário é, cada vez menos, considerado.

O que trazem os comentadores ao jornalismo?

O primeiro painel da tarde foi moderado pelo Prof. Carlos Andrade, jornalista e docente da ESCS, que começou a intervenção, defendendo que, hoje, os comentários são um pretexto para notícias de primeira página, ao contrário do que acontecia há 25 anos, quando ajudavam a consolidar as ideias e convicções dos cidadãos. O painel contou com o contributo de Rita Figueiras, Raquel Varela (historiadora, investigadora, professora universitária e comentadora na RTP) e João Paulo Baltazar (jornalista e diretor de informação da RDP).

Os convidados abordaram questões como o polémico episódio do programa Prós e Contras, no qual a opinião de Raquel Varela levou, como a própria indicou, “a uma discussão de fundo sobre o salário mínimo nacional”, que, até então, a historiadora considera não ter sido conseguido a um nível tão massificado. Os profissionais defenderam, ainda, a necessidade de haver um equilíbrio de opiniões, nos debates, e falaram da dicotomia entre opinião enquanto espaço jornalístico (que contribui para o esclarecimento do público) e enquanto espaço político (construtor de carreiras políticas e gestão da agenda pública).

Crise de valores e crise económica no jornalismo desportivo

A segunda parte do seminário começou com Carlos Carpio, subdiretor do jornal desportivo espanhol Marca. O jornalista falou sobre o facto de, no desporto, a violência passar das redes sociais para a realidade e da necessidade de formar os jovens para que tal não aconteça. Carpio abordou, também, a questão da “lenta mas inevitável” extinção dos jornais em papel, e consequente aumento de leitores no online, e da “vulgarização da profissão”, fruto de uma maior trivialidade no jornalismo desportivo.

Há limites éticos para o comentário desportivo?

O último painel da tarde colocou a questão da ética nos comentários desportivos. José Manuel Delgado, diretor adjunto do jornal A Bola, moderou as intervenções de Carlos Carpio, Duarte Gomes (ex-árbitro internacional de futebol), Alexandre Afonso (jornalista da Antena 1) e Sérgio Krithinas (editor do jornal Record).

O moderador deu início à conversa, defendendo que “jornalismo só há um; depois, há especializações”, pegando no exemplo do desporto e definindo que os programas de comentário, hoje em dia, são “reality shows que de jornalismo têm muito pouco”. Os convidados debruçaram-se sobre aspetos como o fanatismo futebolístico, que leva ao “discurso incendiário” por parte dos adeptos, a diferença entre narração e comentário e o facto das pessoas falarem sobre desporto sem conhecimento, chegando à conclusão de que os adeptos dão mais atenção a “conteúdos sanguinários”, em detrimento dos conteúdos pedagógicos.

Parceria de sucesso

A Dr.ª Lídia Praça, do Conselho Diretivo do IPDJ, encerrou o evento, enaltecendo a parceria com a ESCS, que começou em 2012, com o encontro “A ética no jornalismo desportivo” e se consolidou com os vídeos institucionais “Dilemas éticos no desporto” e, agora, com este seminário. Lídia Praça defendeu que os jornalistas e os comentadores devem de ser “um exemplo para os mais jovens” e que a Comunicação Social, para além de informar, deveria formar. “O dia de hoje contribui para a reflexão do poder do comentário e de como este norteia os princípios do jornalismo”, concluiu.

Apresentação de posters

O seminário contou, ainda, com o contributo de quatro ex-alunos do mestrado em Jornalismo, que apresentaram os resultados de trabalhos finais, que desenvolveram na Escola, tendo como base a lógica do comentário desportivo em alguns órgãos de comunicação social: Filipe Pardal, Melissa Lopes, Ricardo da Costa Pereira e Rita Latas.