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Publicado: 23.03.2018

Na conferência “A Sustentabilidade dos Media em Portugal”, vários profissionais da Comunicação falaram sobre as alterações atuais e futuras no campo dos media.

A conferência “A Sustentabilidade dos Media em Portugal” decorreu, no passado dia 21 de março, no Auditório Vítor Macieira. O evento, organizado pela ESCS, reuniu profissionais de relevo na área da Comunicação em Portugal, que se debruçaram sobre as alterações que têm vindo a mudar o campo dos media. A sessão de encerramento ficou marcada pela intervenção do Ministro da Cultura com a tutela da Comunicação Social, o Dr. Luís Filipe Castro Mendes.

A sessão de abertura contou com a presença do Presidente da Escola, Prof. Doutor Jorge Veríssimo, e do Presidente do Politécnico de Lisboa, Prof. Doutor Elmano Margato.

O Presidente da ESCS começou por destacar o contributo reflexivo da conferência para o papel pedagógico e científico do ensino, concretizado através dos contributos do painel de oradores convidados. O Prof. Doutor Jorge Veríssimo refletiu, também, sobre o “reposicionamento estratégico dos grandes grupos” de comunicação, que procuram, agora, um “novo modelo de negócio, que deixa de estar assente no financiamento dos media pela publicidade”.

Na sua intervenção, o Prof. Doutor Elmano Margato caracterizou a ESCS como “uma referência no ensino da Comunicação em Portugal”, sendo, por isso, o “lugar de excelência” para a discussão do tema da conferência. O Presidente do Politécnico de Lisboa concluiu, defendendo que “não há democracia sem liberdade de expressão” e que “é necessária a independência e a transparência dos media”.

Otimismo face ao digital

A conferência foi moderada pelo Prof. Francisco Sena Santos, jornalista e docente da ESCS, e teve o contributo de diversas figuras de relevo no panorama da Comunicação, em Portugal: António Casanova (Presidente da Associação Portuguesa de Anunciantes – APAN e Presidente executivo da Unilever Portugal e Espanha), Bruno Lima Santos (Diretor Geral de Antena e Programas da TVI), João Epifânio (Administrador da Altice), José Carlos Lourenço (COO da Global Media), Nuno Artur Silva (Autor, Produtor e Administrador cessante da RTP) e Pedro Norton (Administrador da Gulbenkian).

“Há quanto tempo não folheias um jornal diário? Há quanto tempo não vês televisão?” foram as questões colocadas pelo moderador, à plateia, para dar início à conversa. Francisco Sena Santos afirmou que “estamos perante uma transformação extraordinária”, no que diz respeito aos meios de comunicação, e começou por questionar como é que, com tiragens tão baixas, existe sustentabilidade no jornalismo.

No geral, os oradores convidados mostraram-se otimistas em relação às mudanças no setor. Pedro Norton defendeu que a solução para a sustentabilidade dos meios passa por deixar de depender da publicidade e começar a apostar em conteúdos pagos, não esquecendo de “acreditar que o jornalismo tem lugar”. O Administrador da Gulbenkian acredita que é importante ter “boas redações” e deu o exemplo do jornal The New York Times, que tem apostado neste modelo de negócio, o que tem permitido a contratação de novos jornalistas.

António Casanova designou o mercado da publicidade como sendo “um reflexo da pujança da economia”, pelo que “estará onde estiverem os consumidores”. Também o representante da APAN defende que há modelos de negócio que estão a surgir, enquanto outros “estão a morrer”.

O ponto de vista da televisão privada chegou pela voz de Bruno Lima Silva, com o exemplo da TVI, que “tenta acompanhar os olhos dos portugueses”, que deixaram de “ver televisão na sala”, concentrando-se, cada vez mais, nos meios online. Lima Santos refletiu sobre o facto de, atualmente, os canais de televisão terem concorrentes globais, como é o caso da Netflix, sendo necessária uma adaptação, que passa por procurar “alianças com essas plataformas”.

Como autor e produtor, Nuno Artur Silva defendeu que o nível civilizacional de uma sociedade se mede pela diversidade e qualidade do seu jornalismo e da sua ficção, no que diz respeito à produção de conteúdos. Para além dos conteúdos pagos, acrescentou que o caminho para a sustentabilidade dos media passa, também, “pelo investimento dos grandes grupos privados nos países de origem”. O Administrador cessante da RTP esclareceu, ainda, que o jornalismo público “tem a responsabilidade de não seguir o mesmo [modelo] dos privados”, apostando em conteúdos relevantes para a sociedade. Defendeu, no entanto, que, independentemente dos interesses públicos e privados, “bom jornalismo é sempre serviço público”.

Por seu lado, João Epifânio falou do caso da Rádio, como sendo “um dos meios mais resilientes ao longo da última década”, na medida em que tem conseguido reinventar-se no que diz respeito à criação de conteúdos, criando valor junto do público. O Administrador da Altice deu o exemplo da Rádio Comercial que, hoje em dia, “cria eventos que enchem a Altice Arena”, o que é conseguido através de programas inovadores, guiados por figuras com uma forte presença no online.

Sena Santos aproveitou a ocasião para questionar sobre a compra da Media Capital por parte da Altice, que será formalizada a 13 de abril. João Epifânio referiu que esta fusão propõe “um programa industrial de produção de conteúdos inovadores”. “Estamos convictos de que temos uma proposta industrial que representa uma mais valia para os media”, assegurou.

José Carlos Lourenço falou na destreza de outros meios de comunicação, em relação à imprensa em papel, para justificar o risco no rigor da informação neste meio. O COO da Global Media explicou que a conclusão dos artigos para reprodução em papel é feito à noite e deu o exemplo da notícia sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, cujas sondagens indicavam, na hora de fecho dos jornais, um resultado que não foi corroborado pelas notícias que as pessoas ouviram ao acordar. No entanto, afirma, também, que, numa época de fake news, propagadas pela internet, “o jornalismo nunca foi tão importante como hoje” para manter as pessoas informadas.

O ponto de vista do Governo

No encerramento da conferência, o Dr. Luís Filipe Castro Mendes falou sobre a importância deste evento para “discutir a sobrevivência da Comunicação Social plural e remunerada, neste mundo digital”. O Ministro da Cultura explicou que tem havido uma tentativa de desgovernamentalizar as entidades de Comunicação Social, referindo que “o Governo não intervém nas decisões dessas empresas”.

Castro Mendes defendeu que “não é com subsídios que se resolvem os problemas” relacionados com a era digital, mas, sim, com criatividade, e falou na importância de dar relevo ao conteúdo noticioso, para que este não seja confundido com fake news.