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Publicado: 06.12.2013

Publicado: 06/12/2013

Hipstelvetica é o nome do tipo de letra criado pelo escsiano José Filipe Gomes. O projeto tipográfico tem dado que falar um pouco por todo o mundo.

Há um mês atrás, o diretor de arte José Filipe Gomes publicou a fonte Hipstelvetica no Behance, uma comunidade online de criativos. De imediato, o tipo de letra revelou-se um sucesso internacional. Até agora, o projeto tipográfico já soma mais de 8 mil downloads.

[Legenda] Para José Filipe Gomes, a Helvetica “é a fonte mais bem desenhada da História”.

Helvetica + hipster = Hipstelvetica

A Hipstelvetica é um tipo de letra experimental inspirado numa outra fonte: a Helvetica. Em poucas palavras, José Filipe Gomes descontruiu-a. “Achei que uma abordagem mais concetual ao desenho tipográfico podia ser algo fresco”, conta. A inspiração para o desenho da fonte baseou-se na premissa de “agarrar em referências de fontes mais experimentais e aplicá-las ao desenho da Helvetica”, explica.

Apesar de ser “um desejo antigo”, a Hipstelvetica foi a primeira aventura tipográfica de José. O escsiano descreve o processo de criação de uma fonte como “longo e solitário”. “Em publicidade, as coisas acontecem muito mais depressa e uma campanha envolve muitas pessoas”, conta. Por esse motivo, José encara este projeto como um processo no qual tomou as decisões sozinho e foi 100% responsável pelo resultado final, algo a que não está habituado.

Quando decidiu disponibilizar a Hipstelvetica não tinha grandes expetativas. “Deixa lá ver como é que isto corre”, pensou ingenuamente. Logo na semana de lançamento, foi o quinto projeto tipográfico mais apreciado* em todo o mundo. “Sinto um orgulho enorme por ver o meu trabalho reconhecido”, confessa.

*NOTA: No site Behance, os utilizadores podem escolher a opção “apreciar” (o equivalente ao “gosto” no Facebook).

Para José, num projeto como este, “não são só as letras que importam”. Assim como o desenho da fonte propriamente dito, também as suas características são fundamentais no processo (ex.: definir o espaçamento entre as letras). “Estudar e aprender bastante” são outros ingredientes necessários. Para além dos conhecimentos de tipografia, é igualmente necessário dominar os softwares de criação de fontes. José confessa que “foi uma aventura, já que foi a primeira vez que utilizei um programa deste tipo”.

José admite que o seu objetivo não é ser um type designer. “Vejo isto apenas como um processo de aprendizagem e uma atividade paralela ao meu trabalho como publicitário”. Contudo, admite que a aventura tipográfica não fica por aqui. Sem revelar pormenores, José adianta que já tem outra ideia para a criação de uma nova fonte.

A Hipstelvetica está disponível para download gratuito aqui.

[Fotografia] José Filipe Gomes já trabalhou para marcas como a Super Bock e a Mercedes-Benz.

O criativo

José Filipe Gomes é licenciado em Publicidade e Marketing. O escsiano afirma que uma das mais-valias da ESCS foi ensinar-lhe que “é tudo muito mais fácil e divertido se fizeres muito mais do que aquilo que te pedem”. Para isso, muito contribuiu a participação em atividades extracurriculares “que te ajudam a fazer a extra-mile”.

O seu percurso profissional já acumula uma vasta experiência dentro e além fronteiras. Nos primeiros anos de carreira em Portugal, passou por agências como a McCann, a JWT, a Lowe Ativism (atual Lintas) e a Strat. Entretanto, surgiu a oportunidade de trabalhar na Ogilvy & Mather, em Barcelona, e, entretanto, deu uma perninha na Jung von Matt, em Hamburgo. Voltou a Portugal para uma experiência na BAR e, há bem pouco tempo, regressou a Barcelona – “cidade fantástica, uma das melhores do mundo para viver”, confessa –, onde trabalha como freelancer.

José possui uma visão um tanto ou quanto crítica em relação à forma como a criatividade é atualmente tratada em Portugal. “Há falta de oportunidades para romper com as convenções”, afirma. O diretor de arte refere que é preciso inovar. Como publicitário, defende que “tens de ser mais relevante, de dizer algo às pessoas que elas querem ouvir e nunca ouviram, de uma forma que nunca viram”. Isto porque, por natureza, as pessoas evitam a publicidade. Para José, deve ser este o objetivo de qualquer criativo e, acima de tudo, o de qualquer campanha que se preze.

Fotografias gentilmente cedidas por José Filipe Gomes.