Publicado: 04.03.2016
No âmbito das comemorações do 28.º aniversário da TSF, a ESCS recebeu a conferência “Comunicação Social: de Emídio Rangel aos tempos de hoje”. O evento contou com a presença de ilustres personalidades ligadas à Comunicação Social em Portugal.
A TSF foi fundada pelo jornalista Emídio Rangel no dia 29 de fevereiro de 1988. A “rádio bissexta”, como foi apelidada por ter “nascido” num ano bissexto, depressa se tornou numa referência no jornalismo de informação em Portugal. No dia em que celebrou 28 anos de existência, o Auditório Vítor Macieira foi palco da conferência “Comunicação Social: de Emídio Rangel aos tempos de hoje”. O evento contou com a presença do Presidente da República eleito, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, e do Ministro da Cultura, o Dr. João Soares, para além de nomes incontornáveis do jornalismo português, que debateram a Comunicação perante uma plateia composta por alunos, professores e órgãos de comunicação social. O evento contou, ainda, com um momento de homenagem a Emídio Rangel.
Sessão de abertura
Para além da conferência, o evento assinalou, também, uma mudança na Direção da TSF. Paulo Baldaia, diretor até ao dia 29 de fevereiro, deu início ao evento, referindo que a estação se caracteriza por “saber estar à frente do tempo”. Relativamente ao seu fundador, destacou o facto de este ter conseguido sempre distinguir-se “no meio de tantos bons profissionais”.
Victor Ribeiro, CEO da Global Media Group (GMG), também enalteceu o trabalho desenvolvido por Emídio Rangel, sublinhando o seu percurso na televisão e no jornalismo. “A TSF é a jóia da coroa que figura no seu currículo”, referiu, mencionando que, após 28 anos, esta rádio “continua a ser uma referência num setor em turbulência”.
Um dos pontos altos da conferência foi o discurso do Presidente da República eleito que, com o bom humor que lhe é característico, falou sobre Emídio Rangel, a história da estação e a sua passagem pela TSF. Marcelo Rebelo de Sousa mencionou que quando a estação surgiu “rompeu com o que se fazia na rádio” em Portugal e que a paixão de Emídio Rangel pelo jornalismo fez com que este percebesse as mudanças necessárias, ao nível da Comunicação, em Portugal, e criasse “uma nova realidade na rádio e na televisão”. Foi, inclusivamente, a convite de Rangel que Marcelo Rebelo de Sousa começou a fazer rádio, em 1993, “em troca de um microfone americano”. “Guardo ótimas recordações da minha passagem pela TSF”, confessa.
O antigo Professor questionou os estudantes que o ouviam sobre se valia, ou não, a pena estudar Comunicação Social devido às dificuldades que o setor atravessa, respondendo afirmativamente à mesma pergunta. Marcelo admitiu que, apesar de “o panorama ser muito difícil”, o papel da Comunicação Social é essencial para a democracia.
“Democracia de Pluralismo – O Estado da Comunicação Social”
O primeiro debate foi moderado por Paulo Baldaia e teve como tema a “Democracia de Pluralismo – O Estado da Comunicação Social”.
No decorrer da conversa, José Pacheco Pereira afirmou que “as redes sociais não produzem jornalismo” nem “são representativas da opinião da população”, uma vez que os fóruns de opinião são manipulados e não há mediação nos comentários.
Carlos Magno, Presidente da ERC, acredita ser necessário reinventar o jornalismo que, hoje em dia, é feito pelo “enviado especial à internet”, defendendo que o “jornalismo que queremos consumir” tem que ser remunerado, uma vez que “não há democracia” sem este meio.
Admitindo não ter “uma visão tão pessimista em relação à Comunicação Social”, Daniel Proença de Carvalho defendeu que as mudanças tecnológicas e a reestruturação do setor são os responsáveis pela mudança no panorama. O Chairmain do GMG acredita que, numa época de total liberdade de expressão, “há abertura para todas as correntes exprimirem” a sua opinião.
“Modelos de Negócio e Sustentabilidade dos Media”
O painel do segundo debate contou com a moderação de David Dinis que substitui, agora, Paulo Baldaia, na Direção da TSF, e abordou as questões relacionadas com os modelos de negócio e com a sustentabilidade dos media.
O primeiro orador a fazer-se ouvir foi Mário Vaz, que acredita que as novas tecnologias eliminaram fronteiras, contribuindo para o aumento das audiências. O CEO da Vodafone defendeu que os operadores colaboram com os media, na medida em que “não há media de sucesso se não for complementado com imagem [e] com escrita”.
Luís Mergulhão, CEO do Grupo OMG, sustentou a necessidade de “agarrar” nas marcas e difundi-las pelo “maior número de plataformas possível”, com conteúdos de qualidade, de forma a chegarem a mais pessoas.
Para finalizar o debate, José Carlos Lourenço declarou que é necessário “gente nova e cheia de energia para ajudar a fazer o caminho do futuro”. O COO do GMG defendeu que “a relevância das marcas é muito disputada” pelas audiências e pelas empresas e que a distribuição de conteúdos é, cada vez mais, importante, tendo em conta que a sua difusão por um maior número de pessoas gera valor económico.
Homenagem a Emídio Rangel
No momento mais emotivo da tarde, subiram ao palco Ana Rangel e os jornalistas que ajudaram Emídio Rangel a fundar a TSF.
A filha mais velha do jornalista (que fazia anos nesse mesmo dia) afirmou que “a TSF continua a ser a menina dos olhos” do legado do seu pai. Davis Borges, Carlos Andrade (docente na ESCS) e José Fragoso destacaram a coragem e o companheirismo de Emídio Rangel, que os “desafiou” a começar, com ele, um projeto que contribuiu para a revolução da Comunicação Social em Porugal.
No final, foi projetado um vídeo de homenagem realizado pelo jornalista Reinaldo Serrano, da SIC.
Paulo Baldaia afirmou que aprendeu, com Rangel, que “é nos momentos difíceis que é preciso olhar para a frente”. De seguida, passou o testemunho de Diretor da TSF a David Dinis, que declarou ser “uma honra que espero cumprir com a qualidade dos meus antecessores”.
Prémios Emídio Rangel
Após a homenagem, David Dinis deu a conhecer o Prémio Emídio Rangel, que surgiu, não só para homenagear o jornalista, como também em jeito de comemoração do 28.º aniversário da TSF. O Prémio é composto por quatro categorias, sendo que três delas são anuais e atribuídas mediante candidaturas e a quarta é atribuída em anos bissextos (com início em 2016), por votação de júri, a um profissional dos media, com base na sua carreira e no reconhecimento perante comunidade.
Encerramento
A conferência encerrou com a presença de João Soares, Ministro da Cultura, com a tutela da Comunicação Social, que admitiu considerar Emídio Rangel um amigo e expressou, em nome do Governo, a admiração pela TSF.
No seu discurso, o Ministro despiu-se de formalismos, focando-se na sua amizade com o jornalista. “Nunca fui capaz de apagar o número do Emídio Rangel do meu telemóvel”, confessou, emocionado.