Passar para o conteúdo principal

Publicado: 28.02.2014

Publicado: 10/01/2014

A escsiana Susana Romana lançou o livro “Escrever para Comédia”.

“Escrever para Comédia – Um guia prático para arruinar (ou salvar) vidas” é o nome do livro que a guionista Susana Romana lançou no final de 2013. Segundo a autora, trata-se de um manual que pretende “colmatar uma falha” ao nível das edições em português na área da escrita de humor. “Não há livros adaptados à realidade portuguesa”, afirma. Susana sempre achou que alguém acabaria por publicar um livro desta natureza. Mas “como ninguém lançou, então lancei eu”. A obra aborda as principais técnicas relativas à escrita para comédia e oferece um vasto rol de exercícios práticos. “É um livro feito para ser usado e partilhado”. Para Susana, destina-se a todos os curiosos: os que querem perceber como funciona a comédia e os que querem escrevê-la.

[Fotografia] Para Susana, o objetivo do humor é causar uma reação. Por isso, “tu não podes escrever humor para a gaveta”.

O equívoco? Do jornalismo ao guionismo.

Aos 9 anos, Susana já sabia o que queria ser quando fosse grande: jornalista. A obsessão pela série televisiva Murphy Brown foi decisiva nessa escolha. Mais tarde, o curso de licenciatura em Jornalismo na ESCS revelou-se a opção certa. Em retrospetiva, Susana defende que a Escola proporciona aos alunos “rotinas de trabalho e uma capacidade de desenrasque acima da média”. A escsiana admite que “dificilmente iria retirar [isso] de outra escola”.

Em 2003, decorria o último ano do curso, decidiu investir as suas poupanças em formação na área do guionismo e inscreveu-se em vários cursos de escrita. “Era algo que me interessava”, conta. Curiosamente, foi aí que surgiu a oportunidade de ir para as Produções Fictícias, onde trabalha até hoje como guionista.

“Desviar a rota” é a expressão que Susana utiliza para descrever o percurso que a levou do jornalismo para o guionismo. Apesar de afirmar que andou “equivocada”, sobre uma coisa não residem dúvidas: “se voltasse atrás, tirava o mesmo curso, no mesmo sítio”.

Já a trabalhar como guionista, em 2005, sentiu que era hora de se especializar. Para tal, decidiu “sair da bolha”: foi para Nova Iorque frequentar um curso intensivo de três meses de Guionismo na New York Film Academy. “Foi muito enriquecedor”, comenta.

O dia-a-dia de uma guionista

Nas Produções Fictícias (PF), Susana conta com entusiasmo que “faço o que me encanta”. A guionista admite que já escreveu para “uma imensidão de coisas” (falta-lhe o cinema), mas diz gostar “dessa esquizofrenia”, pois acaba por nunca fazer o mesmo. O jornal humorístico O Inimigo Público é o projeto no qual está envolvida desde que ingressou nas PF. “Foi bastante óbvio que ter referências de jornalismo ajudava muito a escrever [para o jornal]”, conta Susana que não esquece a sua formação base.

A guionista foi das “primeiríssimas” pessoas a integrar a equipa do Canal Q, o canal televisivo das PF. “Lembro-me de o Canal Q ser cinco pessoas numa sala a ter ideias”, recorda sobre os tempos em que o projeto era “uma coisa quase caseirinha”. No dia-a-dia, “somos meia dúzia de carolas num sótão a ter ideias”, conta. Apesar de estar no ar desde 2010, Susana admite que ainda não se habituou ao facto de que há pessoas a ver. “É um bocadinho estranho”, confessa.

A guionista é também conhecida por ser apresentadora do Ponto Q, uma rubrica do programa A Costeleta de Adão sobre crítica de cinema para adultos. Mas Susana garante que “não estou ali a tentar ser badalhoca”. Trata-se, de facto, de “uma crítica de cinema à séria” e é aí que reside a graça da coisa.

Escrever para comédia

Para Susana, a reação é o clímax do prazer de se contar uma história com piada. “Fazer as pessoas rir é fantástico”. A guionista diz que o ADN de uma piada consiste em conseguir surpreender o ouvinte: “a piada é sempre uma surpresa”. “Começas por um caminho e, de repente, desvias para outro que ninguém estava à espera”, explica.

Regra geral, o guionista vive na sombra de quem conta a piada. Para Susana, o anonimato faz parte da profissão. Confortável no seu papel, refere que “quem não lida bem com isso acaba por ser muito mais infeliz”.

Mas escrever implica uma rotina de trabalho. O mito do bloqueio do escritor é algo que Susana desvaloriza. “Quem tem um prazo de entrega não tem um bloqueio”, afirma pragmaticamente. “Não fiquem a olhar para a folha em branco, escrevam!”, aconselha.