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Publicado: 20.02.2015

Publicado: 13/02/2015

A escsiana Sílvia Caneco acaba de editar um livro que ajuda a entender o colapso do Grupo Espírito Santo, através das conversas entre os próprios elementos da família Espírito Santo.

Sílvia Caneco licenciou-se em Jornalismo na ESCS e trabalha no jornal i desde 2009. Foi enquanto jornalista do diário que se cruzou com o maior escândalo económico do ano passado. Esse encontro teve como fruto "As conversas secretas do clã Espírito Santo", um livro editado em janeiro pela Esfera dos Livros que "conta na íntegra tudo, mesmo tudo, o que foi dito nas últimas 16 reuniões do Conselho Superior do Grupo Espírito Santo (GES)".

[Fotografia] Sílvia Caneco licenciou-se na ESCS e é jornalista no jornal i.

As conversas secretas

Quando soube da sua existência, Sílvia não descansou enquanto não teve acesso às gravações áudio das reuniões do Conselho Superior do GES. Isto sem fazer ideia do que a esperava. Embora tivesse noção de que estaria na posse de muita informação importante, "só quando comecei a ouvi-las é que percebi que o que tinha em mãos era um documento histórico, carregado de revelações e segredos, sobre a gestão e a queda do GES". As conversas entre os membros de uma das famílias mais poderosas em Portugal desenrolaram-se como se não houvesse um gravador presente – ou como se tivessem a certeza de que as gravações nunca viriam a público – e originaram "uma mão cheia de notícias, que foram publicadas no i em primeira mão". A fonte das notícias estava, no entanto, longe de secar. "Eu não teria 340 páginas num jornal para contar esta história. No livro, tenho um tempo, um espaço e uma liberdade narrativa que não são compatíveis com um jornal diário". Com um prazo muito curto, de modo a não perder a atualidade do tema, Sílvia transcreveu integralmente as gravações, cruzou informação com relatos de outras fontes e dados de outros documentos e enriqueceu o texto com apontamentos sobre os diálogos, de modo a contextualizar o leitor e a fazê-lo sentir que está realmente a assistir às reuniões. "Procurei ir sempre dando notas sobre o tom da voz, sobre quem estava ou não zangado, sobre se se riam ou se estavam desesperados". A jornalista quis apresentar factos, para que as pessoas possam informar-se e tirar as suas próprias ilações sobre o que conduziu ao fim do Banco Espírito Santo, e descarta qualquer faceta justiceira. "A grande mais-valia do livro é que é a história contada de dentro, pelas vozes dos próprios Espírito Santo, e em tempo real, à medida que as desgraças iam desabando sobre o grupo".

Jornalismo e Justiça

"As conversas secretas do clã Espírito Santo" não é o primeiro livro de Sílvia Caneco. Em 2012, foi co-autora, juntamente com Rosa Ramos, de "Sacanas com Lei", que conta histórias de pequenos crimes e contos do vigário. Ambas as obras tratam de temas de Justiça, que também tem vindo a ser o foco do seu trabalho no jornal i. Porém, nem sempre foi assim e Sílvia até chegou a recusar enveredar por essa área quando recebeu a primeira proposta nesse sentido, em 2010. "Eu não quis entrar porque olhava para a minha colega que tinha essa pasta, via o que ela sofria ao telefone com as fontes de informação e pensava: 'Deus me livre'" Depois de passar pelas áreas de cultura, sociedade, família e reportagem (a que mais a entusiasmou), um misto de necessidade por parte do jornal e de desejo de novos desafios por parte de Sílvia conduziram-na então à Justiça. "Comecei verdadeiramente a gostar quando para uma rubrica do jornal acompanhei durante meses julgamentos na Pequena Instância Criminal de Lisboa. Sempre tive curiosidade sobre os crimes de sangue e aos poucos passei para a criminalidade económica, que, apesar de à partida parecer mais chata, é muito desafiante. Todos os casos da Justiça são muito diferentes uns dos outros e esse é o grande encanto da área", revela, confessando alguma pena por não ter estudado Direito.

Já o curso de Jornalismo na ESCS ensinou-a "a ser uma pessoa desenrascada, a não ter medo de ir à procura, de fazer um texto, de tirar umas fotografias, editar um som ou um vídeo". Destacando igualmente a componente prática da licenciatura, tece elogios aos professores que a inspiraram: "É sempre um privilégio aprender com os melhores, sobretudo quando estes nos ensinam a ser muito exigentes connosco".

Fotografia gentilmente cedida por Sílvia Caneco.