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Publicado: 27.02.2015

Publicado: 27/02/2015

A Chiado Editora escolheu a ESCS como palco para a apresentação do livro "Um repórter inconveniente", de Aurélio Cunha.

Na passada terça-feira, ao final da tarde, decorreu na sala 2P9 da ESCS a apresentação oficial do livro "Um repórter inconveniente – Bastidores do jornalismo de investigação". Além do seu autor, Aurélio Cunha, e de uma plateia repleta, estiveram presentes na apresentação os jornalistas Ana Leal (jornalista na TVI e docente na ESCS), Joaquim Vieira (presidente do Observatório de Imprensa), Carlos Magno (presidente do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social) e César Adão (representante da Chiado Editora). O discurso de abertura coube ao Presidente da ESCS, Prof. Doutor Jorge Veríssimo, que sublinhou a vertente de formação complementar que eventos como este podem assumir, trazendo aos escsianos o testemunho vivo de quem tem uma longa carreira no terreno.

[Fotografia] O portuense Aurélio Cunha foi, durante longos anos, jornalista no Jornal de Notícias.

Testemunho dos pares

Ana Leal deu início à sua intervenção, que se centraria na matéria sobre a qual o livro versa (o jornalismo de investigação), confessando que se reviu e divertiu imenso a lê-lo, com alguns "ataques de fúria" pelo meio. "O que me moveu quando quis ser jornalista foi o mesmo que te moveu a ti", afirmou, dirigindo-se a Aurélio Cunha. Referia-se à "esperança de endireitar o mundo", uma missão "cada vez mais difícil". Sem se coibir de recorrer a episódios da sua experiência pessoal, muitos dos quais mediáticos, Ana Leal falou das pressões exercidas sobre os jornalistas e sobre as limitações impostas pelas direções de informação. Por sua vez, Joaquim Vieira, antigo colega de Aurélio, começou por tentar tranquilizar os alunos presentes. Ainda que "Um repórter inconveniente" seja um "testemunho de um jornalismo que desapareceu", o "espírito" e a "essência" mantêm-se vivos. O caso Watergate, referência maior do jornalismo de investigação que aconteceu quando estava a estudar, foi particularmente importante para o seu percurso, pelo que lamenta o número cada vez menor de profissionais a fazer esse trabalho – destacando, de entre as causas apontadas por Ana Leal para tal realidade, o fator económico. Sobre o autor da obra apresentada, relembrou o estatuto de "livro de reclamações do Norte" que a certa altura adquirira graças ao seu estilo de fazer jornalismo, muito próximo das pessoas e atento ao que as afetava no dia-a-dia. Outra designação curiosa surgiu do testemunho de Carlos Magno: H2O, ou "humildade, honestidade e objetividade". Terão sido estas características que fizeram com que, segundo Joaquim Vieira, as suas reportagens tenham contribuído para evoluir e modernizar Portugal. "Um jornalista é jornalista por paixão", concluiu.

[Fotografia] Em cima: Jorge Veríssimo, Ana Leal e César Adão. Em baixo: Joaquim Vieira, Aurélio Cunha e Carlos Magno.

Na primeira pessoa

Por entre as várias histórias de reportagens – muitas das quais surgidas "do nada" – que contou durante o seu discurso e durante a sessão de perguntas e respostas, Aurélio Cunha partilhou com a plateia o seu modus operandi. Não tendo condições para desenvolver o trabalho aprofundado que a sua pretensão de se dedicar ao serviço do público e do bem comum requeria, o jornalista viu-se na necessidade de o fazer fora das horas e dos dias de serviço, por sua conta e risco, não raras vezes "na clandestinidade" (inclusive dentro do seu próprio local de trabalho). Além disso, relevou a sua "capacidade de seduzir fontes" e as revisões científicas e jurídicas a que submetia os seus textos, de modo a garantir que chegavam ao editor blindados e sem quaisquer motivos para a sua publicação ser recusada. A paixão pelo jornalismo de investigação tornou-se ainda mais evidente quando afirmou que, desde que tivesse o suficiente para subsistir, "até pagaria para ser jornalista". Joaquim Vieira realçou a curiosidade de este lançamento ter ocorrido numa escola onde se ensina jornalismo, uma vez que "o livro é um autêntico manual". Fica o apelo para que os futuros jornalistas o leiam.